Lutero foi um reformador social que fez muitos esforços em favor dos pobres.
Os seus verdadeiros ensinamentos conduziram a um maior sofrimento entre os pobres, e impediram todos os esforços para lhes proporcionar alívio. Os pobres eram socorridos pelos mosteiros, mas os príncipes confiscaram para si mesmos a propriedade da Igreja, deixando o povo destituído. E os apelos de Lutero aos seus próprios seguidores para contribuições destinadas ao alívio deles foram um completo fracasso, como ele próprio teve de admitir. Ele ensinara que não havia valor nas boas obras. Disse mesmo: "É mais importante guardar-se contra as boas obras do que contra o pecado" (Wittenberg Ed., vol. VI, p. 160). Para os luteranos não havia o redima os seus pecados fazendo esmolas". Haviam-lhes ensinado: "Já não há mais nenhum pecado no mundo exceto a incredulidade". Era uma doutrina cômoda, mas sem nenhum freio sobre o egoísmo humano. As obras de caridade diminuíram sob a influência dos ensinamentos dele, em assinalado contraste com o seu aumento onde quer que o espírito católico prevalece.
Você não pode negar que, na esteira do Protestantismo dado a nós por Martinho Lutero, seguiu-se um imenso progresso na arte e na literatura, no campo científico e mecânico, na prosperidade intelectual e material.
Embora tenha havido um extraordinário progresso nessas coisas desde o advento do protestantismo, ele não foi devido ao protestantismo e, certamente não foi devido aos princípios ensinados por Martinho Lutero. O impulso dado aos estudo da arte e da literatura, o desenvolvimento do espírito de investigação, o rápido avanço do interesse educacional e científico, datam do Renascimento, que ocorrera antes de sequer se ouvir falar de Protestantismo. E o movimento teria prosseguido quer Lutero houvesse abandonado a Igreja quer não. De fato, os princípios de Lutero eram opostos ao progresso do saber, e onde ele foi bem sucedido foi em levar a religião a tal descrédito, que aplainou o caminho para um racionalismo incrédulo que corrompeu o movimento progressista e conduziu a um puro materialismo.
Foi Lutero quem ensinou os homens a usar a sua inteligência.
Isso é exatamente o oposto da verdade. No seu livro The Life of Faith, p. 19, Rosalind Murray escreve: "O primeiro erro mais geral e destrutivo é a concepção da Fé como sendo oposta à Razão, como sendo um impulso irracional, como sendo uma emoção alheia ao intelecto e hostil a ele; este é estado de mente para o qual apoiar a nossa fé com a razão é destruí-la; e ele achou uma das suas expressões mais desastrosas na demolidora teologia de Lutero: "A razão deve ser deixada para trás, pois é inimiga da Fé (...), não há nada tão contrário à fé como a lei e a razão" (Tischreden, Weimar VI, 143, 25-35). Erasmo, o humanista, glorificou a razão. Lutero condenou-a. E Erasmo escreveu: "Onde quer que o Luteranismo prevalece, aí as letras morrem". Até mesmo Melanchthon, companheiro de Reforma de Lutero, teve de admitir: "Na Alemanha, todas as escolas estão desaparecendo".
Isso é contrário a tudo o que nos tem sido ensinado.
E, todavia, é verdade. Não só os católicos, mas também os próprios racionalistas recusam reconhecer qualquer dívida educacional a Lutero. H. A. L. Fisher diz: "Lutero não era nenhum teólogo profundo; e nem era filósofo. Não acreditou na livre investigação ou tolerância, e assim, longe de reconhecer a possibilidade de desenvolvimento no pensamento religioso, aterrou-se firmemente à crença de que toda a verdade quanto aos problemas últimos da vida e do espírito devia ser achada na Sagrada Escritura. Não é pois , de Lutero, selvagem anti-semita, que os movimentos liberal e racionalista do pensamento europeu tiram a sua origem" (A History of Europe, p. 500). A era do moderno progresso educacional começou antes do advento do protestantismo, e teria continuado sem este. Tudo quanto o protestantismo fez foi solapar os verdadeiros fundamentos da fé cristã, preparando o caminho para um desvio geral de toda a religião rumo a um secularismo que culminou em conseqüências as mais desastrosas para a civilização.
Semelhante conclusão demolidora não pode ser verdadeira!
Ela parece extravagante somente aos que não fizeram um estudo profundo do assunto. Logo desde o começo, os ensinamentos de Lutero levaram a uma desintegração da sociedade e a uma degeneração da moral: No período mais primitivo da Reforma. Martinho Bucer escrevia: "A maior parte das pessoas parece só terem abraçado o Evangelho para sacudir o jugo da disciplina e a obrigação do jejum e da penitência, que pesavam sobre elas no Papado, e para poderem viver conforme o seu próprio prazer, desfrutando sem controle os eus sórdidos e desregrados apetites. Essa foi a razão de haverem elas prestado ouvidos benévolos à justificação pela fé apenas e não pelas boas obras, pelas últimas das quais eles não tinham gosto" (De Regn, vol. I, c. I, 4). Lutero não pôde negar esta acusação. Ele mesmo escreveu: "Por que, depois que aprendemos o Evangelho, nós roubamos, mentimos, enganamos, praticamos gulodice e bebedice e toda sorte de vícios. Agora que um demônio foi enxotado, sete outros, piores do que o primeiro, entraram em nós, como podemos ver nos príncipes, lordes, nobres, burgueses e camponeses. Assim eles agem e assim eles vivem, sem qualquer temor, sem fazerem caso de Deus e das suas ameaças" (Erlangen, vol. 36, p. 411). E onde tudo isso findou ? O racionalismo minou a fé luterana na Alemanha e, em menor extensão, no mundo inteiro. Em 1935, por ocasião do seu 70º aniversário, Lundendorff dizia: "Neste momento, nós alemães somos o povo que mais alheia ao intelecto e hostil a ele; este é o estado de mente para o qual apoiar a nossa fé com a razão é destruí-la; e ele achou uma das suas expressões mais desastrosas na demolidora teologia de Lutero: "A razão deve ser deixada para trás, pois é inimiga da Fé ... não há nada tão contrário à fé como a lei e a razão" (Tischreden, Weimar VI, 143, 25-35). Erasmo, o humanista, glorificou a razão. Lutero condenou-a. E Erasmo escreveu: "Onde quer que o Luteranismo prevalece, aí as letras morrem". Até mesmo Melanchthon, companheiro de Reforma de Lutero, teve de admite: "Na Alemanha, todas as escolas estão desaparecendo".
Lutero ensinou a crença nos Evangelhos. Não pode ser censurado pelo procedimento dos que abandonaram a crença nos Evangelhos.
O ensino dele é responsável pela perda da fé nos Evangelhos. Ele rejeitou a única autoridade capaz de preservar a sã doutrina - a autoridade sobrenatural e divina da Igreja Católica. O seu princípio do juízo privado levou a toda sorte de novidades divergentes, e, para impedir estas, ele não teve outro recurso senão apelar para a autoridade do Estado, como supremo até mesmo em assuntos religiosos. Isto, por sua vez, levou a abusos ainda piores. O Estado prazeirosamente lançou mão desse novo acesso ao poder; mas, se o Luteranismo só podia existir ao bel-prazer do Estado, não há nada que impeça o Estado de aboli-lo em favor de uma religião de puro nacionalismo inventada por ele mesmo. Foi em plena conformidade com os princípios de Lutero sobre a supremacia do Estado que os nazistas procuraram impor à Alemanha uma nova religião de "sangue e solo", distribuindo por todo o país centenas de milhares do folheto Gott und Volk, em que se exortava o povo a escolher entre Cristo e os antigos deuses da Alemanha. O Deão Inge, ex-deão da catedral de S. Paulo em Londres, é profundamente protestante em visão, e tem pouca simpatia pelo catolicismo; todavia, não hesitou em escrever: "Se desejamos achar um bode expiatório em cujas costas possamos depositar as misérias que a Alemanha causou ao mundo, estou cada vez mais convencido de que o pior gênio do mal daquele país não é Hitler nem Bismarck nem Frederico, o Grande, mas sim Martinho Lutero". E dá como razão disso que, no Luteranismo, "a lei da natureza, que deve ser o tribunal de apelação contra a autoridade injusta, é identificada com a ordem de sociedade existente à qual é devida absoluta obediência". E acrescenta: "Devemos esperar que o próximo balanço do pêndulo porá fim á influência de Lutero na Alemanha" (citado na revista Time de 6 de novembro de 1944).
Os protestantes no mundo inteiro aceitam os princípios puramente religiosos de Lutero, e não os seus princípios políticos.
Se ele errou nos últimos, não há garantia de ter acertado nos primeiros. E que os seus princípios religiosos eram errôneos. Isto é evidente pelos seus efeitos. As divisões do Protestantismo em tantas seitas litigantes, e a confusão reinante a respeito do que é e do que não é essencial à Fé Cristã, deveriam ser o bastante para fazer todos os protestantes reflexivos reconsiderarem a sua posição. No seu livro Luther and His Work, Joseph Clayton, um convertido do protestantismo à Igreja Católica, escreve: "Até onde Lutero levou os seus sequazes? A que terra de promissão, depois dos anos de peregrinação fora da unidade católica, são agora trazidos os protestantes que datam a sua emancipação de Martinho Lutero? Quatro séculos de jornadear desde que Lutero iniciou o êxodo, e ainda a terra de promissão do Evangelho luterano, tantas vezes emergente, some-se da vista como a miragem se desvanece no deserto. A terra inculta da dúvida foi que os protestantes alcançaram - uma terra inculta juncada de esperanças abandonadas e de credos alijados".
Os protestantes de hoje não são responsáveis pelas divisões efetuadas pelos seus antepassados.
Isto é verdade. Mas, se nós descobrimos que os nossos antepassados estavam enganados, não há razão para continuarmos no erro simplesmente por terem eles estado em erro. Nem tampouco, naqueles tempos de acesa dissensão, estavam os nossos antepassados tão aptos para ver a verdade como nós, que podemos não somente olhar para trás calmamente depois de todos esses séculos, como também ver como foi que os princípios por eles aceitos operaram na prática. É dever nosso estudar a questão com um amor da verdade só por causa desta. Se vivêssemos nos tempos de Martinho Lutero e conhecêssemos então tudo o que conhecemos agora, teríamos abandonado pelos seus novos ensinamentos a Igreja a que todos os cristãos na Europa haviam pertencido por todos os séculos precedentes? Ou teríamos ficado com a Igreja contra a qual Cristo prometeu que as portas do inferno não haveriam de prevalecer, e com a qual prometer aficar todos os dias até o fim do mundo? Se deste último modo, certamente é dever nosso voltar à Igreja Católica, a qual os primeiros Protestantes nunca deveriam ter deixado.