CCAC...Comunidade Católica Adoradores De Cristo
Deus não vai reduzir a doutrina dele para se adequar a você porque não é ele que tem que se adequar a você é você que tem que se adequar a vontade de Deus.
O meu agir revela a quem eu sirvo
Você é o resultado das suas escolhas
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Não Oro para que Deus faça a minha vontade, mas para que eu me adeque a vontade dele.
Ore não por uma vida fácil, mas pra ter forças para aguentar uma vida difícil.
Não conte suas guerras para os outros, poucos vão querer te ajudar e a maioria só está curiosa.Conte suas guerras para Deus,ele te ajuda a vencê-las.
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Quem sou eu
- Pedrinho
- Barra Bonita, sp, Brazil
- Observador/ Romãntico/ Apaixonado/ Apaixonar-se por Deus é o maior dos romances;Procurá-lo a maior aventura;encontrá-lo a maior de todas as realizações. Filho amado de Deus, sou apaixonado por Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. Eu sou de Cristo e Cristo é de Deus Sou sal da terra e luz de Deus no Mundo.Você pode dizer que sou um sonhador Mas eu não sou o único. Eu espero que algum dia você junte-se a nós E o mundo viverá como um só.
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sábado, 6 de novembro de 2010
O avanço das Seitas
Em síntese: O fenômeno das seitas ou dos novos movimentos religiosos que se vão multiplicando, chama cada vez mais a atenção. Neste artigo são propostas as características do fenômeno na África (e no Brasil) assim como uma tentativa de explicá-lo pela carência de meios convencionais para atender às necessidades de populações sofredoras. As considerações explanadas têm seu significado também para o nosso país.
O fenômeno dos novos movimentos religiosos está sempre na ordem do dia; os meios de comunicação estão continuamente a transmitir as suas mensagens nem sempre construtivas. O fenômeno é mundial. Daí o valor que podem ter para o Brasil as experiências feitas a respeito em outros continentes. - Segue-se, pois nestas páginas a síntese de um artigo do Pe. Neno Contran MCCJ referente à situação na África e publicado com o título "Le défi des sectes en Afrique" na revista "Le Christ au monde", julho-agosto 2000, pp. 248-256.
1. Milhares de grupos
Pode-se dizer que muitos homens e mulheres no mundo inteiro têm sede de Deus. Apenas se pergunta: como procuram satisfazer a essa sede? O modo é altamente emocional, dado ao maravilhoso ou a um misticismo vago e inconsistente.
Milhares de novos movimentos religiosos podem ser enumerados; na África subsaariana são cerca de dez mil, em grande parte, de origem cristã. Em alguns casos ocorre outrossim o culto a Satanás e aos espíritos maus, como se fossem benfeitores do homem. Assim Igreja Fé-Milagre, Terceiro Testamento, Evangelho Pleno, Statu quo, Supervida do Cristo, Bom Deus, Filhos de Deus, Boa-Nova, Nazarenos, Luz, Doze Apóstolos, Aliança Final, Universal Autônomo, Espiritual Universal, Querubins, Cristo e Companheiros, Celestinos, Monte Sião, Libertação, Salomão, Todos os Remédios, Apocalipse, Trombeta do Evangelho, Evangelho-Poder...
No Brasil também se multiplicam as designações de tais movimentos, uns de fundo cristão, outras do cunho esotérico, mais outros de origem oriental... Centenas de profetas, pregadores e curandeiros, por vezes vestidos de maneira fantasiosa, atestam um sincretismo estranho: vestem túnicas, usam cintos, turbantes coloridos e celebram suas "liturgias", proclamando a Palavra de Deus, com danças, imposição das mãos, procissões, cantos, baterias com tambores, atabaques e poderosos alto-falantes.
Alguns grupos contam apenas algumas dezenas de adeptos. Outros dispõem de horas prolongadas de rádio e televisão.
Dar lugar a seitas dissidentes não é privilégio do Cristianismo. Pode- se dizer que cada grande corrente religiosos tem suas dissidências: assim no Japão o chintoísmo conta 130 seitas "não oficiais". O Islamismo conhece grande ramificação em dezenas de confrarias tendentes a reformar radicalmente a sociedade ou a defendê-la de influências nefastas. Existem marabu ou ascetas muçulmanos dedicados ao ensino da religião que realizam práticas pouco ortodoxas, mas muito vivazes e fervorosas: convictos de que Deus está do seu lado, não revelam empregar os meios mais violentos para impor seu modo de ver; em conseqüência, na Nigéria registraram-se conflitos armados, dos quais resultaram 4.117 mortos em Kano no ano de 1980, 1000 mortos em Yola no ano de 1984, 10.000 mortos em 1985. Na Tanzânia a seita Khidmat Dawat lalamia também provocou sérios tumultos.
Os grupos extremistas da Algéria executam civis árabes e estrangeiros. Os integristas do Egito executam atentados e rebeliões. O Islamismo oficial rejeita esses atos de violência; aos 11 de janeiro de 2000 a Organização da Conferência Islâmica condenou os morticínios do Romadã da Algéria nos seguintes termos: "A fé islâmica rejeita de modo absoluto tais atos malfazejos, que são proibidos por todas as religiões celestes".
Essa violência é, em parte, motivada pela persuasão de que
2. O mundo está sob o Maligno
É muito freqüente nesses grupos "místicos" a convicção de que o mundo está sob o poder do Maligno, que deverá ser subjugado por drástica intervenção divina: aguardam portanto o fim da época atual, que caminha para a sua ruína. Em conseqüência as seitas são muitas vezes fortemente proselitistas. Condenam o sistema político, social e econômico vigente, que não pode ser salvo por meios humanos; o ambiente da seita torna-se então o espaço propício para esperar o dia, já próximo, em que Deus mudará o curso da história. Os membros da seita se julgam, por isto, escolhidos privilegiados, decididos a esperar uma ordem de coisas melhor ou uma Nova Era.
Alguns grupos chegam a querer precipitar o fim recorrendo ao suicídio, que lhes parece ser a melhor maneira de romper com este mundo mau. Sejam mencionados os casos seguintes:
- em 1978 na Guiana, 923 pessoas, membros do Templo do Povo se suicidaram por envenenamento, por ordem do pastor Jim Jones;
- em 1993 na região de Wacco (Estados Unidos( o guru da seita dos Davidianos se suicidou com 86 discípulos, dos quais 17 eram crianças, depois de ter combatido as pretensas forças do mal;
- em 1994 na Suiça e no Canadá suicidaram-se 53 membros da "Ordem do Templo Solar";
- em 1995 foi preso Shoko Asahara, fundador da seita Aum Shinrikyo de origem budista japonesa, acusado de ter provocado a explosão de gás no metrô de Tóquio, em que morreram doze pessoas e 5.500 foram intoxicados. Shoko Asahara prometia salvação a quem deixasse a sua família para entrar na seita, onde esperaria a guerra nuclear prevista para 1999.
É interessante notar que muitos desses atos de violência são cometidos em nome de Deus e com o presumido auxílio da Divindade. Assim os homens do Exército da Resistência do Senhor, em Uganda, rezam o terço e celebram ritos propiciatórios antes de executar suas atrocidades "para restabelecer a observância dos Dez Mandamentos".
Põe-se agora a pergunta:
3. Afinal, que é uma seita?
Não é fácil definir uma seita. Confunde-se tal conceito com o de um dos novos movimentos religiosos, que não podem ser tidos como sectários. Como quer que seja é válido afirmar que seita é um grupo religioso que se caracteriza, em grau maior ou menor, pelas seguintes notas:
1) Ruptura com a sociedade maior. Geralmente a seita é fundada em oposição a idéias e práticas vigentes. Isto torna passionais os membros da seita. São entusiastas porque julgam Ter escapado da grande perdição que afeta o respectivo ambiente. A seita, portanto, professa um radicalismo religioso, que pode significar estreiteza de espírito, intolerância, integrismo ou fundamentalismo.
2) Obediência total a um chefe ou guru "carismático". O grupo se configura em torno de um homem ou uma mulher que parece Ter dons particulares, principalmente na luta contra os poderes do mal, as doenças, a desgraça, a depressão...
O califa Modou Kra, do Senegal, fundador do Movimento Mundial Pró-Islã, assim se exprime a propósito dos milhares de seus seguidores: "O que me agrada em meus talibés, é que me seguem em todas as minhas decisões. Sua dedicação para comigo é total". Diz-se mesmo que um discípulo que chega a ver o califa, será atendido em suas expectativas.
3) Tendência ao segredo. A Vida interna da seita fica sob sigilo, de modo que há estrita vigilância dos membros da seita entre si e, eventualmente, vigilância do chefe "carismático" sobre cada um.
4) Emoção e afetividade mais do que raciocínio. O entusiasmo pelo chefe é tal que pode cegar ou fanatizar os adeptos. Estes seguem o princípio: "Tal ou tal proposição é verdadeira se tu o sentes".
5) Militantismo ou Proselitismo. Se o mundo inteiro está sob o poder do Maligno ou pervertido, os membros das seitas tendem a angariar novos parceiros a fim de os salvar da perdição. O proselitismo obriga o militante sectário, que é treinado para ser colportor da mensagem respectiva, nem sempre segundo os critérios da verdade objetiva. Há preconceitos na doutrina das seitas, que levam à agressão nem sempre honesta.
6) Culto caloroso. Em algumas seitas as assembléias de culto são prolongadas; constam de cantos, ladainhas respectivas, imposição de mãos, transe e "terapias" atribuídas ao poder do alto.
7) Já que o mundo vai mal, espera-se para breve uma drástica intervenção divina. O fim do mundo ou, ao menos, o fim de uma era está próximo. Quando ocorrer, as coisas melhorarão. Esta expectativa não pode deixar de suscitar um clima de apavoramento e certo terror.
Põe-se agora a pergunta:
4. Quais as causas?
São diversas as causas do fenômeno das seitas. Podemos assinalar três principais:
1) A inclemência dos nossos tempos. No mundo inteiro, verifica-se certa angústia diante da situação econômica, política, social que afeta os povos, principalmente os mais carentes. A corrupção é grande; falta um dirigente que inspire a confiança dos homens no plano da política mundial. Muitos são tentados a dizer "Só Deus dá um jeito!" e, conseqüentemente, esperam uma intervenção retumbante da Divindade. Em vez de uma tentativa de solução racional, aguardam uma solução mágica por vias irracionais: descida de extra-terrestres ao nosso planeta para ensinar aos homens os caminhos da solução ou aparecimento de profetas para revelar segredos maravilhosos mantidos ocultos em redutos gnósticos (a portentosa sabedoria dos antigos manifestar-se-á assim). Em suma, a ingratidão dos tempos leva a desacreditar dos clássicos recursos da razão e da ciência para dar crédito a pretenso saber mais elevado e poderoso, que será trazido à tona por vias fantasiosas.
2) A esta primeira causa associa-se a segunda, a ela concatenada: em matéria de religião e mística, os homens se desligam da razão para dar soltas à imaginação e às emoções. Há mesmo certo antiintelectualismo no tocante à religião - o que dá lugar a deturpações da fé; esta é substituída por crendices, superstições, que chegam ao auge da cegueira e do fanatismo, provocando crimes "religiosos" como o suicídio coletivo. Na verdade, a religião está no plano do intelecto humano; pois é a mais elevada expressão da inteligência; nada tem de irracional. De resto, ninguém deve crer em coisa alguma se não tem credenciais ou motivos razoáveis para crer. A fé não é um ato cego, mas é a suprema atitude do homo sapiens (homem sábio e inteligente).
3) A carência de recursos materiais ou a pobreza explica o êxito que as seitas têm junta às classes mais desfavorecidas. Não há dinheiro para pagar o médico, o farmacêutico, o advogado,.. então há o recurso a meios gratuitos ou quase gratuitos (que na verdade podem explorar violenta e sorrateiramente os seus adeptos).
As seitas dão a impressão de se ocupar carinhosamente com cada qual dos seus membros, numa atitude calorosa; assim a pessoa doente, aquela lançada para fora de casa, a desabrigada, a separada do(a) consorte, os filhos rejeitados pelos pais, encontram no recinto da seita um refúgio, uma fraternidade, uma orientação que permite olhar para a vida com novos olhos. Isto é muito importante: grande número de pessoas está hoje à procura e à espera de alguém que estenda a mão e leve :"para casa", independentemente da ideologia ou da filosofia de quem convida "a entrar". A pessoa assim retirada da sua solidão e atraída para um ambiente amigo pode sujeitar-se à obediência cega e até a humilhações que ela não toleraria se estivesse apoiada em seu próprio raciocínio e em seus recursos próprios. Com efeito, verifica-se que muitos seguidores das seitas se deixam espancar violentamente a título de ser exorcizados; não deixam de procurar "o exorcismo", que lhes pode custar muito caro não somente no plano físico, mas também no monetário, pois o exorcismo é compensado mediante "uma oferta". Tornam-se pessoas anestesiadas no plano da razão e das emoções, facilmente manipuladas pelo poder "carismático" do seus dirigentes.
5. Que fazer?
O avanço das seitas é um dos mais eloqüentes sinais do nosso tempo. Sugere reflexões sérias e urgentes, não só porque põe em perigo a autêntica noção da religião, mas porque afeta o bem da própria humanidade levando-a a desatinos. É notório o poder da religião tanto para promover o bem como para articular o mal. - E quais seriam as reflexões assim suscitadas?
1) Fomentar a instrução religiosa
Se o ser humano é dotado de inteligência, esta não deve servir apenas a interesses econômicos ou profissionais, mas também, e principalmente, à procura de resposta para as perguntas fundamentais: "quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? Qual o sentido da vida?". Tais perguntas estão relacionadas com a transcendência, com Deus e a fé. Ora as questões sobre o porquê viver não podem ser entregues à emoção, à simpatia, mas requerem reflexão e estudo. Daí a importância de se acentuar a instrução religiosa de crianças, adolescentes, jovens e adultos. A ignorância religiosa é um campo fértil para a proliferação de seitas e novos movimentos religiosos falsamente "místicos".
A catequese bem ministrada é uma das tarefas primordiais da Igreja Católica; aliás, ela sempre o foi, mas tornou-se tal com mais premência em nossos tempos. Seja uma catequese que toque nos pontos nevrálgicos ou nas questões vitais do homem de hoje.
2) Acolhida fraterna
Não basta ao mensageiro da fé dirigir-se ao intelecto dos ouvintes para propor-lhes as verdades do Credo. Muitos mensageiros improvisados ou falsos bombardeiam os ouvidos do público pelo rádio e a televisão, relativizando o conceito de verdade religiosa. É preciso falar não somente à razão, mas também ao coração; antes, é preciso começar por falar ao coração, pois é disto que mais necessita o cidadão perdido nas ruas de nossas cidades. Note-se bem:
São Paulo - e, com ele, a Teologia - ensina que há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade; a fé vem primeiramente nessa seqüência, pois é ela que dá a conhecer a Deus, que a caridade amará de coração. Todavia na ordem da transmissão é mais recomendado começar pela caridade do que pela fé. Sim; quem se mostra amigo e acolhedor a um semelhante, toca-lhe uma fibra muito sensível, pois o mundo é cão (como se diz); demonstrando amor fraterno (sem falar de Deus), o mensageiro desperta a esperança em seu irmão, mostrando-lhe que nem tudo está perdido (ainda há quem queira o bem de seus semelhantes). Em conseqüência, a pessoa benevolamente tratada perguntará ao seu amigo: "Qual é o teu segredo? Por que és bom num mundo que costuma ser egoísta e agressivo?". Ora tal pergunta precisamente dará ocasião a que o arauto da Boa-Nova explique ao interlocutor admirado o seu mistério: "Sou discípulo de Alguém que me ensinou que Deus é Pai e somos todos irmãos. Ele nos ama a ponto de ter entregue seu Filho para a nossa salvação". Assim a mensagem será recebida com interesse e curiosidade, calando fundo no íntimo do interlocutor. Por conseguinte o amor fraterno é inseparável da catequese; deve ser mesmo o seu precursor.
Com este requisito associa-se ainda
3) A coerente conduta de vida dos fiéis católicos
O homem de hoje dá mais atenção à sinceridade do pregador do que à veracidade do mesmo, quando fala de religião. Há tantos pregadores - nem todos coerentes - que os ouvintes estão um tanto céticos em relação à verdade da mensagem apregoada. Contudo são muito atentos à sinceridade e ao tipo de vida do arauto. Um comportamento fiel e corajoso, capaz de se sacrificar para não trair a mensagem impressiona; é relativamente raro numa sociedade em que muitas são as meias-verdades e as meias-atitudes, muito aqueles que "ficam em cima do muro" ou "não querem ralar a pele". Ora observa-se que o secularismo ou a dessacralização tem afetado o testemunho de vida de alguns setores católicos; pensam mais no horizontal (social, econômico, político...) do que no vertical (Deus e os valores transcendentes). Ora isto gera a anemia do Catolicismo; não há dúvida, são importantes os valores humanos, mas o cristão os considera sempre em função de Deus e nunca como meta em si mesmos.
Já que o mundo de hoje com razão cobra dos católicos a coerência de vida, é importante que estes não esqueçam o seu dever de corresponder a tal exigência, exigência aliás que o Senhor Jesus mesmo formulou ao dizer: "Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perder o seu sabor, com que o salgaremos? Para nada mais serve a não ser para ser lançado fora e pisoteado pelos homens. Vós sois a luz do mundo... Não se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, e assim ela brilha para todos os que estão na casa" (Mt 5, 13-15).
4) Liturgia dignamente celebrada
A alma religiosa do fiel católico se exprime não só em sua conduta ética, mas também em seu culto litúrgico. A Liturgia respeitosamente celebrada transmite ao mundo de hoje um pouco do Eterno que se faz presente nos sinais sagrados. O cerimonial bem executado toca uma fibra íntima, muitas vezes não confessada, mas existente em todo ser humano: o senso do mistério, mistério vagamente entrevisto, mas resposta adequada para a inquietude de todo homem; este foi feito para o Absoluto e o Infinito, que a mente humana não sabe exatamente definir.
Eis o que o fenômeno das seitas - eloqüente sinal dos nossos tempos - pode sugerir a quem deseje refletir sobre ele. Possa tal sinal encontrar a devida resposta daqueles que a Providência Divina encarregou de a formular!
O fenômeno dos novos movimentos religiosos está sempre na ordem do dia; os meios de comunicação estão continuamente a transmitir as suas mensagens nem sempre construtivas. O fenômeno é mundial. Daí o valor que podem ter para o Brasil as experiências feitas a respeito em outros continentes. - Segue-se, pois nestas páginas a síntese de um artigo do Pe. Neno Contran MCCJ referente à situação na África e publicado com o título "Le défi des sectes en Afrique" na revista "Le Christ au monde", julho-agosto 2000, pp. 248-256.
1. Milhares de grupos
Pode-se dizer que muitos homens e mulheres no mundo inteiro têm sede de Deus. Apenas se pergunta: como procuram satisfazer a essa sede? O modo é altamente emocional, dado ao maravilhoso ou a um misticismo vago e inconsistente.
Milhares de novos movimentos religiosos podem ser enumerados; na África subsaariana são cerca de dez mil, em grande parte, de origem cristã. Em alguns casos ocorre outrossim o culto a Satanás e aos espíritos maus, como se fossem benfeitores do homem. Assim Igreja Fé-Milagre, Terceiro Testamento, Evangelho Pleno, Statu quo, Supervida do Cristo, Bom Deus, Filhos de Deus, Boa-Nova, Nazarenos, Luz, Doze Apóstolos, Aliança Final, Universal Autônomo, Espiritual Universal, Querubins, Cristo e Companheiros, Celestinos, Monte Sião, Libertação, Salomão, Todos os Remédios, Apocalipse, Trombeta do Evangelho, Evangelho-Poder...
No Brasil também se multiplicam as designações de tais movimentos, uns de fundo cristão, outras do cunho esotérico, mais outros de origem oriental... Centenas de profetas, pregadores e curandeiros, por vezes vestidos de maneira fantasiosa, atestam um sincretismo estranho: vestem túnicas, usam cintos, turbantes coloridos e celebram suas "liturgias", proclamando a Palavra de Deus, com danças, imposição das mãos, procissões, cantos, baterias com tambores, atabaques e poderosos alto-falantes.
Alguns grupos contam apenas algumas dezenas de adeptos. Outros dispõem de horas prolongadas de rádio e televisão.
Dar lugar a seitas dissidentes não é privilégio do Cristianismo. Pode- se dizer que cada grande corrente religiosos tem suas dissidências: assim no Japão o chintoísmo conta 130 seitas "não oficiais". O Islamismo conhece grande ramificação em dezenas de confrarias tendentes a reformar radicalmente a sociedade ou a defendê-la de influências nefastas. Existem marabu ou ascetas muçulmanos dedicados ao ensino da religião que realizam práticas pouco ortodoxas, mas muito vivazes e fervorosas: convictos de que Deus está do seu lado, não revelam empregar os meios mais violentos para impor seu modo de ver; em conseqüência, na Nigéria registraram-se conflitos armados, dos quais resultaram 4.117 mortos em Kano no ano de 1980, 1000 mortos em Yola no ano de 1984, 10.000 mortos em 1985. Na Tanzânia a seita Khidmat Dawat lalamia também provocou sérios tumultos.
Os grupos extremistas da Algéria executam civis árabes e estrangeiros. Os integristas do Egito executam atentados e rebeliões. O Islamismo oficial rejeita esses atos de violência; aos 11 de janeiro de 2000 a Organização da Conferência Islâmica condenou os morticínios do Romadã da Algéria nos seguintes termos: "A fé islâmica rejeita de modo absoluto tais atos malfazejos, que são proibidos por todas as religiões celestes".
Essa violência é, em parte, motivada pela persuasão de que
2. O mundo está sob o Maligno
É muito freqüente nesses grupos "místicos" a convicção de que o mundo está sob o poder do Maligno, que deverá ser subjugado por drástica intervenção divina: aguardam portanto o fim da época atual, que caminha para a sua ruína. Em conseqüência as seitas são muitas vezes fortemente proselitistas. Condenam o sistema político, social e econômico vigente, que não pode ser salvo por meios humanos; o ambiente da seita torna-se então o espaço propício para esperar o dia, já próximo, em que Deus mudará o curso da história. Os membros da seita se julgam, por isto, escolhidos privilegiados, decididos a esperar uma ordem de coisas melhor ou uma Nova Era.
Alguns grupos chegam a querer precipitar o fim recorrendo ao suicídio, que lhes parece ser a melhor maneira de romper com este mundo mau. Sejam mencionados os casos seguintes:
- em 1978 na Guiana, 923 pessoas, membros do Templo do Povo se suicidaram por envenenamento, por ordem do pastor Jim Jones;
- em 1993 na região de Wacco (Estados Unidos( o guru da seita dos Davidianos se suicidou com 86 discípulos, dos quais 17 eram crianças, depois de ter combatido as pretensas forças do mal;
- em 1994 na Suiça e no Canadá suicidaram-se 53 membros da "Ordem do Templo Solar";
- em 1995 foi preso Shoko Asahara, fundador da seita Aum Shinrikyo de origem budista japonesa, acusado de ter provocado a explosão de gás no metrô de Tóquio, em que morreram doze pessoas e 5.500 foram intoxicados. Shoko Asahara prometia salvação a quem deixasse a sua família para entrar na seita, onde esperaria a guerra nuclear prevista para 1999.
É interessante notar que muitos desses atos de violência são cometidos em nome de Deus e com o presumido auxílio da Divindade. Assim os homens do Exército da Resistência do Senhor, em Uganda, rezam o terço e celebram ritos propiciatórios antes de executar suas atrocidades "para restabelecer a observância dos Dez Mandamentos".
Põe-se agora a pergunta:
3. Afinal, que é uma seita?
Não é fácil definir uma seita. Confunde-se tal conceito com o de um dos novos movimentos religiosos, que não podem ser tidos como sectários. Como quer que seja é válido afirmar que seita é um grupo religioso que se caracteriza, em grau maior ou menor, pelas seguintes notas:
1) Ruptura com a sociedade maior. Geralmente a seita é fundada em oposição a idéias e práticas vigentes. Isto torna passionais os membros da seita. São entusiastas porque julgam Ter escapado da grande perdição que afeta o respectivo ambiente. A seita, portanto, professa um radicalismo religioso, que pode significar estreiteza de espírito, intolerância, integrismo ou fundamentalismo.
2) Obediência total a um chefe ou guru "carismático". O grupo se configura em torno de um homem ou uma mulher que parece Ter dons particulares, principalmente na luta contra os poderes do mal, as doenças, a desgraça, a depressão...
O califa Modou Kra, do Senegal, fundador do Movimento Mundial Pró-Islã, assim se exprime a propósito dos milhares de seus seguidores: "O que me agrada em meus talibés, é que me seguem em todas as minhas decisões. Sua dedicação para comigo é total". Diz-se mesmo que um discípulo que chega a ver o califa, será atendido em suas expectativas.
3) Tendência ao segredo. A Vida interna da seita fica sob sigilo, de modo que há estrita vigilância dos membros da seita entre si e, eventualmente, vigilância do chefe "carismático" sobre cada um.
4) Emoção e afetividade mais do que raciocínio. O entusiasmo pelo chefe é tal que pode cegar ou fanatizar os adeptos. Estes seguem o princípio: "Tal ou tal proposição é verdadeira se tu o sentes".
5) Militantismo ou Proselitismo. Se o mundo inteiro está sob o poder do Maligno ou pervertido, os membros das seitas tendem a angariar novos parceiros a fim de os salvar da perdição. O proselitismo obriga o militante sectário, que é treinado para ser colportor da mensagem respectiva, nem sempre segundo os critérios da verdade objetiva. Há preconceitos na doutrina das seitas, que levam à agressão nem sempre honesta.
6) Culto caloroso. Em algumas seitas as assembléias de culto são prolongadas; constam de cantos, ladainhas respectivas, imposição de mãos, transe e "terapias" atribuídas ao poder do alto.
7) Já que o mundo vai mal, espera-se para breve uma drástica intervenção divina. O fim do mundo ou, ao menos, o fim de uma era está próximo. Quando ocorrer, as coisas melhorarão. Esta expectativa não pode deixar de suscitar um clima de apavoramento e certo terror.
Põe-se agora a pergunta:
4. Quais as causas?
São diversas as causas do fenômeno das seitas. Podemos assinalar três principais:
1) A inclemência dos nossos tempos. No mundo inteiro, verifica-se certa angústia diante da situação econômica, política, social que afeta os povos, principalmente os mais carentes. A corrupção é grande; falta um dirigente que inspire a confiança dos homens no plano da política mundial. Muitos são tentados a dizer "Só Deus dá um jeito!" e, conseqüentemente, esperam uma intervenção retumbante da Divindade. Em vez de uma tentativa de solução racional, aguardam uma solução mágica por vias irracionais: descida de extra-terrestres ao nosso planeta para ensinar aos homens os caminhos da solução ou aparecimento de profetas para revelar segredos maravilhosos mantidos ocultos em redutos gnósticos (a portentosa sabedoria dos antigos manifestar-se-á assim). Em suma, a ingratidão dos tempos leva a desacreditar dos clássicos recursos da razão e da ciência para dar crédito a pretenso saber mais elevado e poderoso, que será trazido à tona por vias fantasiosas.
2) A esta primeira causa associa-se a segunda, a ela concatenada: em matéria de religião e mística, os homens se desligam da razão para dar soltas à imaginação e às emoções. Há mesmo certo antiintelectualismo no tocante à religião - o que dá lugar a deturpações da fé; esta é substituída por crendices, superstições, que chegam ao auge da cegueira e do fanatismo, provocando crimes "religiosos" como o suicídio coletivo. Na verdade, a religião está no plano do intelecto humano; pois é a mais elevada expressão da inteligência; nada tem de irracional. De resto, ninguém deve crer em coisa alguma se não tem credenciais ou motivos razoáveis para crer. A fé não é um ato cego, mas é a suprema atitude do homo sapiens (homem sábio e inteligente).
3) A carência de recursos materiais ou a pobreza explica o êxito que as seitas têm junta às classes mais desfavorecidas. Não há dinheiro para pagar o médico, o farmacêutico, o advogado,.. então há o recurso a meios gratuitos ou quase gratuitos (que na verdade podem explorar violenta e sorrateiramente os seus adeptos).
As seitas dão a impressão de se ocupar carinhosamente com cada qual dos seus membros, numa atitude calorosa; assim a pessoa doente, aquela lançada para fora de casa, a desabrigada, a separada do(a) consorte, os filhos rejeitados pelos pais, encontram no recinto da seita um refúgio, uma fraternidade, uma orientação que permite olhar para a vida com novos olhos. Isto é muito importante: grande número de pessoas está hoje à procura e à espera de alguém que estenda a mão e leve :"para casa", independentemente da ideologia ou da filosofia de quem convida "a entrar". A pessoa assim retirada da sua solidão e atraída para um ambiente amigo pode sujeitar-se à obediência cega e até a humilhações que ela não toleraria se estivesse apoiada em seu próprio raciocínio e em seus recursos próprios. Com efeito, verifica-se que muitos seguidores das seitas se deixam espancar violentamente a título de ser exorcizados; não deixam de procurar "o exorcismo", que lhes pode custar muito caro não somente no plano físico, mas também no monetário, pois o exorcismo é compensado mediante "uma oferta". Tornam-se pessoas anestesiadas no plano da razão e das emoções, facilmente manipuladas pelo poder "carismático" do seus dirigentes.
5. Que fazer?
O avanço das seitas é um dos mais eloqüentes sinais do nosso tempo. Sugere reflexões sérias e urgentes, não só porque põe em perigo a autêntica noção da religião, mas porque afeta o bem da própria humanidade levando-a a desatinos. É notório o poder da religião tanto para promover o bem como para articular o mal. - E quais seriam as reflexões assim suscitadas?
1) Fomentar a instrução religiosa
Se o ser humano é dotado de inteligência, esta não deve servir apenas a interesses econômicos ou profissionais, mas também, e principalmente, à procura de resposta para as perguntas fundamentais: "quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? Qual o sentido da vida?". Tais perguntas estão relacionadas com a transcendência, com Deus e a fé. Ora as questões sobre o porquê viver não podem ser entregues à emoção, à simpatia, mas requerem reflexão e estudo. Daí a importância de se acentuar a instrução religiosa de crianças, adolescentes, jovens e adultos. A ignorância religiosa é um campo fértil para a proliferação de seitas e novos movimentos religiosos falsamente "místicos".
A catequese bem ministrada é uma das tarefas primordiais da Igreja Católica; aliás, ela sempre o foi, mas tornou-se tal com mais premência em nossos tempos. Seja uma catequese que toque nos pontos nevrálgicos ou nas questões vitais do homem de hoje.
2) Acolhida fraterna
Não basta ao mensageiro da fé dirigir-se ao intelecto dos ouvintes para propor-lhes as verdades do Credo. Muitos mensageiros improvisados ou falsos bombardeiam os ouvidos do público pelo rádio e a televisão, relativizando o conceito de verdade religiosa. É preciso falar não somente à razão, mas também ao coração; antes, é preciso começar por falar ao coração, pois é disto que mais necessita o cidadão perdido nas ruas de nossas cidades. Note-se bem:
São Paulo - e, com ele, a Teologia - ensina que há três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade; a fé vem primeiramente nessa seqüência, pois é ela que dá a conhecer a Deus, que a caridade amará de coração. Todavia na ordem da transmissão é mais recomendado começar pela caridade do que pela fé. Sim; quem se mostra amigo e acolhedor a um semelhante, toca-lhe uma fibra muito sensível, pois o mundo é cão (como se diz); demonstrando amor fraterno (sem falar de Deus), o mensageiro desperta a esperança em seu irmão, mostrando-lhe que nem tudo está perdido (ainda há quem queira o bem de seus semelhantes). Em conseqüência, a pessoa benevolamente tratada perguntará ao seu amigo: "Qual é o teu segredo? Por que és bom num mundo que costuma ser egoísta e agressivo?". Ora tal pergunta precisamente dará ocasião a que o arauto da Boa-Nova explique ao interlocutor admirado o seu mistério: "Sou discípulo de Alguém que me ensinou que Deus é Pai e somos todos irmãos. Ele nos ama a ponto de ter entregue seu Filho para a nossa salvação". Assim a mensagem será recebida com interesse e curiosidade, calando fundo no íntimo do interlocutor. Por conseguinte o amor fraterno é inseparável da catequese; deve ser mesmo o seu precursor.
Com este requisito associa-se ainda
3) A coerente conduta de vida dos fiéis católicos
O homem de hoje dá mais atenção à sinceridade do pregador do que à veracidade do mesmo, quando fala de religião. Há tantos pregadores - nem todos coerentes - que os ouvintes estão um tanto céticos em relação à verdade da mensagem apregoada. Contudo são muito atentos à sinceridade e ao tipo de vida do arauto. Um comportamento fiel e corajoso, capaz de se sacrificar para não trair a mensagem impressiona; é relativamente raro numa sociedade em que muitas são as meias-verdades e as meias-atitudes, muito aqueles que "ficam em cima do muro" ou "não querem ralar a pele". Ora observa-se que o secularismo ou a dessacralização tem afetado o testemunho de vida de alguns setores católicos; pensam mais no horizontal (social, econômico, político...) do que no vertical (Deus e os valores transcendentes). Ora isto gera a anemia do Catolicismo; não há dúvida, são importantes os valores humanos, mas o cristão os considera sempre em função de Deus e nunca como meta em si mesmos.
Já que o mundo de hoje com razão cobra dos católicos a coerência de vida, é importante que estes não esqueçam o seu dever de corresponder a tal exigência, exigência aliás que o Senhor Jesus mesmo formulou ao dizer: "Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal perder o seu sabor, com que o salgaremos? Para nada mais serve a não ser para ser lançado fora e pisoteado pelos homens. Vós sois a luz do mundo... Não se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas no candelabro, e assim ela brilha para todos os que estão na casa" (Mt 5, 13-15).
4) Liturgia dignamente celebrada
A alma religiosa do fiel católico se exprime não só em sua conduta ética, mas também em seu culto litúrgico. A Liturgia respeitosamente celebrada transmite ao mundo de hoje um pouco do Eterno que se faz presente nos sinais sagrados. O cerimonial bem executado toca uma fibra íntima, muitas vezes não confessada, mas existente em todo ser humano: o senso do mistério, mistério vagamente entrevisto, mas resposta adequada para a inquietude de todo homem; este foi feito para o Absoluto e o Infinito, que a mente humana não sabe exatamente definir.
Eis o que o fenômeno das seitas - eloqüente sinal dos nossos tempos - pode sugerir a quem deseje refletir sobre ele. Possa tal sinal encontrar a devida resposta daqueles que a Providência Divina encarregou de a formular!