Mais um ano que se passou, mais um ciclo que se encerra.
Passei a vida toda ouvindo que a cada ano novo a vida recomeça, tudo é novo e o livro que até então estávamos escrevendo deveria ser encerrado para dar lugar a outro. Não concordo.
A vida é mutante, mudanças são necessárias, embora nem sempre bem vindas, mas o nosso renascimento ocorre a cada manhã. Toda noite ao fecharmos os olhos, morremos e na manhã seguinte renascemos para o dia que se inicia nos dando a oportunidade de fazer aquilo que estamos adiando há tempos, ou aprimorar aquilo que já nos faz feliz.
Encerrar ciclos, colocar um ponto final naquela relação abusiva, dizer adeus a quem já partiu antes mesmo de sair fisicamente do nosso lado, não é nada fácil; tendemos sempre a olhar para trás, pensar no que poderia ter sido, no que deveríamos ter dito, nos abraços que deveríamos ter dado, e as águas não passam, o tempo parece parar, a angústia aumenta, as incertezas e os medos só crescem nos obrigando a acreditar que quando o relógio marcar 0 hora no dia 31 de dezembro tudo será diferente porque a vida que ficou com o ano que passou vai ser apagada. Infelizmente não é assim que as coisas funcionam, a realidade é muito mais dolorosa e cruel e a vida é muito mais que uma celebração anual.
Olhar para trás talvez nunca vá ser saudável, contudo muitas vezes é inevitável e algumas memórias que gostaríamos que não existissem vão ficar para sempre escondidas no lugar mais profundo dos nossos corações sendo visitadas de tempos em tempos.
Resta-nos então aprender com essas memórias doídas e seguir adiante, passo por passo, permitindo sempre que as feridas doam o quanto tiverem que doer para que assim consigam cicatrizar no tempo certo, deixando sabedoria na estrada que percorrem ao nosso lado e amor em cada pedaço de nós.
Feliz ano novo!