Alexandro Gruber
É preciso sabedoria para caminhar…
Um bom Caminhante sempre está atento aos sinais.
Ele sabe que se existe uma única certeza na existência é de que tudo é caminho. Existem caminhos leves, com paisagens bonitas, companhias agradáveis, e outros difíceis, que vão exigir força de seus pés, para contornar cada obstáculo e profundidade do seu olhar, para enxergar o bem oculto em cada coisa.
O Caminhante sabe que Deus não mora longe dele. Sabe que Deus está tanto nele, quanto em tudo que existe. O Caminhante sabe que Ele se oculta atrás do brilho do sol, que repousa na tranquilidade das estrelas, que Ele espreita por entre cada pedra no caminho. Por isso o Caminhante caminha reverenciando tudo que pisa, tudo que toca, tudo que vê, reconhecendo o Sagrado que em cada coisa habita.
É por isso que no meio das suas caminhadas ele para no meio da estrada, senta no chão para admirar a paisagem. Sente o vento tocar-lhe o rosto e deixa as estrelas lhe falar. Neste momento ele sente um profundo amor pela vida e agradece ao Grande Espírito por simplesmente viver. O Caminhante sabe que as maiores riquezas são aquelas coisas que não podemos possuir.
O Caminhante não se deixa enganar. Ele sabe que podemos usar coisas, conviver com pessoas, mas que só possuímos a nós. Há muito tempo ele aprendeu que a verdadeira bagagem que carregamos são os sentimentos que levamos na alma. Sabe ele que devemos sentir ao invés de querer possuir. É preciso conhecer a tênue linha que separa o sentimento da posse. Duras foram às lições, mas o Caminhante aprendeu que o amor é incondicional, sem condições, e que quem impõe as regras é a mente, influenciada por medos e receios.
É por este motivo que o Caminhante fica sempre atento para ouvir se a voz que fala com ele vem da mente ou do coração. A voz da mente é sempre uma gravação das vozes do mundo, cheia de medos e ameaças, querendo brilhar. Enquanto que a alma é pura luz. Ela não teme os obstáculos, jamais se julga não merecedora ou se usa de sentimentos mesquinhos pra parar ou motivar o Caminhante. Ela fala leve e sabe o que fará o caminhante feliz.
E o Caminhante sabe que as coisas de fora são boas, mas que felicidade não é uma situação, mas sim uma habilidade interior. Para ele não é uma questão de procurar ou comprar a felicidade, mas de usá-la!
Assim, ele está sempre atento às armadilhas do caminho. Sabe que muitas são as ilusões que cruzam a sua jornada. Elas tem lábia, e lhe falam promessas de fama e de poder. Pacientemente o Caminhante escuta seu coração dizer que o importante não é o reconhecimento de fora, mas a paz que conquistamos dentro. Então, ele desvia das armadilhas e segue seu caminho.
Muitas são as pessoas que encontra. Em seu interior ele sussurra baixinho palavras de gratidão, pois tem ciência que cada pessoa, assim como cada situação é um mestre disfarçado. Dentro dele, ele faz uma reverência invisível, escuta lições que escapam dos ouvidos dos apressados, e leva com ele como uma ferramenta que deve ser sempre usada, para não ser esquecida.
E nos momentos da dor o Caminhante mergulha profundamente em si mesmo. Ele não reclama. Sabe que a Grande Mestra não manda nada que ele não tenha de alguma forma pedido. Cada situação é uma resposta de suas próprias perguntas. Se vem através da dor, foi porque ele não ouviu pelas palavras do amor. Então ele a recebe, pois sabe que ela oculta a visita da verdade. Mesmo com lágrimas, ele ouve suas palavras, absorve suas lições, e se despede dela como de uma velha amiga, sabendo que ela sempre será uma companhia na caminhada, até que ele aprenda a amar de verdade.
Ao fim do dia ele não se esqueça de agradecer as três coisas que moldam a criação: a vida, que permite que tudo exista; a morte, que permite que tudo se renove; e o amor que permite que tudo tenha significado.
Assim, ele se deita pra dormir. Não sem antes se lembrar que ninguém que se deita com suas mágoas pode dormir bem. Então, antes de tudo ele perdoa, e aí pode dormir em paz.
Quando amanhece ele reverência ao sol, sentindo gratidão infinita por existir. Ele reza a Grande Mestra agradecendo aos sinais pelo caminho, pede ajuda aos Espíritos Ancestrais que caminham por outras estradas no Universo, e pede a Sabedoria dos Anjos, para que seus olhos nunca estejam cegos para as bênçãos que encontra.
Então ele se levanta e continua a caminhada. Ele tem conhecimento que não é só um caminho no mundo, é mais do que isso. É um caminho para dentro de si. Pois é nas estradas ocultas de nós mesmos que se esconde o caminho perdido até Deus.
Por isso feliz, ele caminha…