Que fique enterrado o que passou e foi ruim, que fique
anulada em nós a pessoa que machucou, pois é ela que terá de conviver
com o que fez e não nós.
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Assim como a inveja, o desejo de vingança é um dos sentimentos
inconfessáveis mais comuns aos seres humanos. Costumamos lidar muito mal
com frustrações, decepções e rejeição, o que, muitas vezes, leva-nos a,
intimamente, sentir vontade de devolver, na mesma moeda, o mal que nos
fizeram, até mesmo armando planos mirabolantes que possam nos trazer
alívio. Machucados, só a raiva parece fazer sentido dentro de nós.
É fato que nada daquilo que se faz, pensa ou diz, quando nos momentos de
turbulência, parece coerente, pois as emoções fortes então nos cegam e
desvirtuam o raciocínio, tolhendo-nos a capacidade de visualizar
caminhos novos e soluções plausíveis. A pressa em resolver as coisas,
nesse caso, atrapalha também os nossos pensamentos, pois somos
imediatistas e queremos tudo para agora, ao passo que o tempo tem seu
próprio caminhar e traz clareza no momento certo.
Por mais que saibamos que a raiva é o pior lugar para a tomada de
decisões, raramente somos capazes de dar tempo ao tempo e deixar a vida
seguir o seu curso. E então vamos gastando cada vez mais energia com
quem não mereceria um milésimo de segundo em nossos pensamentos.
Canalizamos nossas energias de forma negativa em direção ao que não nos
trará nenhuma paz, ao que não retorna, a quem nos desvaloriza enquanto
pessoa. Isso é triste demais.
Bom seria se, nos momentos em que alguém nos provoca tristeza sem fim,
concentrássemos os nossos esforços em tudo, em qualquer coisa, menos no
que diz respeito a quem nos feriu. Deveríamos, nesses momentos, olhar o
mundo como se aquela pessoa não mais fizesse parte dele, como se nada
mais tivesse nem a sombra dela – mas agimos exatamente de modo
contrário. Também deveríamos analisar o que em nós provocou tudo aquilo,
assumindo o que nos cabe naquilo tudo.
Por mais que estejamos longe de conseguir agir com clareza quando nos
encontramos avassalados pela dor e tomados de orgulho ferido, seremos
ainda mais prejudicados, caso teimemos em não aceitar o que acontece e
fiquemos focados na vida de quem nos feriu. É preciso sempre preservar a
nós mesmos, voltando-nos ao que temos em nós, juntando o que nos restou
para nos reerguermos fortalecidos e livres do que deve ficar no
passado, no máximo como uma lição de vida. Que fique enterrado o que
passou e foi ruim, que fique anulada em nós a pessoa que machucou, pois é
ela que terá de conviver com o que fez e não nós.

Lutemos para que o que for bom permaneça dentro de nós, considerando um
favor o que de ruim aconteceu e nos mostrou a verdade de cada um. Não
precisamos perder tempo com vingança, afinal, a vida, por si só, sempre
se encarregará de dar a lição que cada pessoa merece, de uma maneira
muito mais dolorida e perfeita do que podemos imaginar.