Sirvo de uma saudosa expressão do teólogo suíço, Hans Urs von Balthasar para intitular o presente artigo. De bom grado, pondero que, de agora em diante, a ‘dimensão do amor’ será enfocada a partir das ‘esferas do sensível’.
Em alguns ambientes a sensibilidade é vista como uma característica, puramente, feminina, ainda mais pelo equívoco de que a figura masculina é privada de emoções, quando, na verdade, não o é. Existe uma ideia preconceituosa de que os homens devem ser brutos, matutos e toscos. Algo totalmente desnecessário em uma sociedade que valoriza as experiências nela vivenciadas.
Muitas vezes, a sensibilidade é interpretada como uma ameaça ao masculino, ao ser confundida com meiguice e delicadeza: particularidades mais aproximadas às mulheres. O homem pode demonstrar afeto, dedicar-se a uma causa, amar sem esperar algo em troca, conceder presentes, se preocupar com os outros, ter atitudes acolhedoras – sem deixar de ser masculino por isso. Não tenhamos insegurança de ser o que somos na essência.
A sensibilidade é atributo próprio de toda pessoa, seja homem, seja mulher. Nascemos sensíveis! Desde o ventre materno a criança já é capaz de sentir o mundo a sua volta. Processo natural que é plenificado com a formação do sistema nervoso. Ela é um organismo vivo. Portanto, tem facilidade para distinguir os cenários de vida e os de morte em seu entorno. Sabe se é bem-vinda e amada pelos pais ou se é recusada. Infelizmente, há vários casos de abortos espontâneos devido à rejeição ao bebê em desenvolvimento.
Muito além dos cinco sentidos, a sensibilidade envolve todo o nosso corpo, abarcando o campo dos sentimentos. Junto a ela estão as emoções e o que experimentamos no dia a dia. O termômetro da sensibilidade é a compaixão. Quando compreendemos a dor do outro nos tornamos sensíveis ao seu sofrimento. Não permanecemos calados. Tornamo-nos a voz dos sem vozes!
Se nosso coração se compadece quando vê uma criança passando fome; se sentimos saudade no momento em que um amigo vai para o exterior à procura de trabalho; se choramos pela perda de um ente querido; se lamentamos os desastres climáticos mundo afora, ao assistir o jornal ou ao acessar um site de notícias; se procuramos ir ao encontro dos mais desprovidos, oferecendo a ajuda necessária: é garantia de que o dom da sensibilidade ainda vive entre nós! Eis o sinal de que nos compadecemos frente às fatalidades da existência e tratamos de amenizá-las, quando não nos é possível levar a solução de imediato.
Só fazemos o bem pelo fato de tocarmos as feridas alheias e descobrirmos quão grande é a sua dor. Colocar-se no lugar do outro, calçar as sandálias de seus sofrimentos é o melhor caminho para nos tornamos mais humanos. Na verdade, é este o objetivo da sensibilidade: humanizar-nos! Há pessoas que sentem orgulho por falar mal dos outros, por mentir, por se beneficiar de algo que não lhe pertence. Quanto mais vantagens recebem, mais querem ter. Pensam somente em si e acabam se esquecendo dos mais próximos, a começar por aqueles que estão dentro de casa. Aqui nasce o câncer da insensibilidade.
Aquele que coloca o amor do Pai como fundamento da vida é uma pessoa livre, feliz e libertadora. O amor transforma o coração de pedra em vida que pulsa pelos outros. Não nos sentimos melhor quando agimos com sensibilidade. Pelo contrário, às vezes nos sentimos até pior, por não ter todas as condições que gostaríamos para ajudar aqueles que mais necessitam. Quem é sensível sai de si e vai ao encontro de Deus no serviço desinteressado aos irmãos conhecidos e, sobretudo, desconhecidos. O amor não escolhe endereços privilegiados, ele simplesmente age em favor do mais necessitado.
Volto a insistir: se quisermos ser fiéis ao Evangelho, devemos existir para as mesmas pessoas que Jesus existiu e por elas deu a vida! Ele perdoou a mulher adúltera, acolheu as lágrimas de uma prostituta arrependida, curou os excluídos leprosos e comeu entre os cobradores de impostos: “Estando Jesus à mesa em casa de Mateus, muitos cobradores de impostos e pecadores foram e sentaram-se à mesa com Jesus e seus discípulos” (Mt 9,10). Olhando para a vida de Jesus é importante reconhecer se estamos sendo leais à Sua missão ou se estamos exercendo somente aquilo que nos agrada.
Jamais deixemos de lado o dom da sensibilidade. Que ele não caia no esquecimento nem se mantenha exilado de nossas atitudes. No amor do Pai, façamos de nossas casas, locais de acolhida e diálogo. Ajamos com esforço para que o ambiente de trabalho e de estudo, até onde depender de nós, seja um espaço para o cultivo da fraternidade e do respeito. Tenhamos cuidado para com as pessoas e zelo por suas histórias, que são sagradas. Aprendamos a amar com Jesus, o Bom Samaritano, que nos humaniza!