Nunca se sabe onde está uma despedida.
Até no afã do até logo pode esconder-se um nunca mais.
Na frase infeliz, na simples conversa, algo pode estar morrendo, do amor ou da amizade.
Há despedidas que não são patentes.
Não se lhes percebe o estalo do afastamento, que pode estar no instante de mau humor, na resposta infeliz, na alegria que não se repete ou na palavra que deixamos de dar e receber.
Às vezes, está na palavra que dizemos.
Nem sempre as pessoas se separam: esgarçam-se às vezes.
É algo que se afasta sem romper completamente. Também no que esgarça pode haver despedida pois, embora não haja perda de matéria, nunca mais será como antes.
Despedir-se é sutil, nem sempre aparece.
Seres em mutação, vivemos a mudar sem saber.
Na mudança, transforma-se em recordação o que antes era união e vontade, amizade ou convivência.
A despedida não é por querer: acontece a despeito. Um simples “até já” pode conter inimagináveis nuncas. Ou sempres.
Nosso destino é preso a acontecimentos semi-controláveis. Ou impulsos, cansaços, e as discordâncias, são imprevisíveis. E geram despedidas antes insuperáveis.
Ninguém sabe de quem se afastará.
Nem quais as amizades e amores de toda a vida, nada obstante existam.
Raros captam a dor que estala em cada hipótese de despedida.
Separar-se contém sempre a hipótese da despedida.
As grandes despedidas dão-se – contudo – sem que o percebamos.
As grandes despedidas infiltram-se no cotidiano e nos atos corriqueiros de cada dia sem ser percebidas.
Muitos anos depois, vamos verificar que disfarçado em dia-a-dia ali estavam e estalavam saudades antecipadas, vários nuncas dos quais jamais suspeitamos. Nunca se sabe onde está uma despedida.
A não ser muito depois.